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NOSSAS AMÉRICAS NOSSOS CINEMAS – Balanço geral

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O blog de cinema está cobrindo o que se passa no fórum de cinema Nossas Américas Nossos Cinemas, que acontece na cidade de Sobral até o dia 26 de maio. Na missão de correspondente irei cobrir e contar tudo o que está em discussão e em exibição no Festival, o qual conta com a presença de alguns dos mais importantes cineastas e produtores do cinema brasileiro e da cinematografia latinoamericana

Por só ter chegado ontem pela manhã em Sobral, acabei perdendo os eventos mais notáveis do primeiro dia – a cerimônia de abertura do encontro, a homenagem à cineasta e atriz bahiana Helena Ignez e a exibição do longa Trabalhar Cansa, de Juliana Rojas e Marco Dutra. O segundo dia do encontro começou com cerca de 30 minutos de atraso. O palestrante do dia, Eryk Rocha, o realizador de Transeunte, que veio em uma van comigo e com o cineasta equatoriano Kuyllur Saywa, só pôde chegar ao Teatro São João às 09h25 devido ao atraso no tempo de viagem.

Eryk, que apresenta nesta sexta seu premiado Transeunte, eleito o melhor filme nacional exibido no ano passado, abriu o segundo dia do encontro ao lado do escritor e cineasta Geraldo Sarno em uma palestra sobre a sua formação, influências e sobretudo, a sua maneira de entender a linguagem cinematográfica. A palestra se deu em um tom de associação livre, Geraldo Sarno provocava e Erik respondia.

Eryk formou-se em cinema e televisão em 1999 pela escola de San Antonio de los Baños em Havana, e teve sua estreia no cinema em 2002 com o documentário Rocha que voa (inspirado na vida de seu pai, Glauber Rocha). O cineasta disse que o seu interesse inicial pelo cinema foi pela montagem, inspirado pelo cineasta soviético Serguei Eisenstein (1898-1948). Eryk relatou, também, a influência de sua formação em Havana como montador para o processo de construção de Rocha que voa, “o filme foi uma descoberta”, segundo ele, pois o roteiro foi construído na sala de edição.

Em Rocha que voa, o jovem cineasta afirmou ter usado película vencida para rodar as cenas gravadas nas ruas de Havana. No final das contas, disse ele, a escolha pela película vencida (fatalmente mais barata) foi perfeita, pois era um filme nostálgico com uma textura que se aproximava daquelas aproveitadas nos arquivos documentais exibidos no filme. Ainda falando da montagem do filme, ele comentou o uso de câmeras digitais para gravar certas cenas direto da televisão onde eram exibidas as imagens documentais! Um puro artifício metalinguístico que funcionou perfeitamente na estética do filme.

A voz do anonimato sempre inspirou Eryk, desde Rocha que voa, onde nas ruas de Havana ele reconstrói o cinema de seu pai a partir do discurso imaginário dos cidadãos comuns, ou segundo ele, dos transeuntes. Os dois filmes que se seguiram a Rocha que voa também utilizam-se dessas vozes anonimas e delirantes, Intervalo Clandestino e Pachamama desconstroem o cenário político brasileiro e latino americano através desse mosaico de sujeitos, imersos em seu contexto social.

Intervalo Clandestino surgiu da necessidade de fazer um retrato do cenário político brasileiro pelo próprio povo brasileiro – “eu não queria fazer um filme político institucionalizado, queria estabelecer um diálogo com o povo”, disse -, após a reeleição do ex presidente Luis Inácio Lula da Silva. Para tal, Eryk entrevistou cariocas de todas as zonas da capital fluminense. Intervalo Clandestino é para Eryk a segunda parte de uma trilogia que só viria a se encerrar em Pachamama.

Pachamama foi um filme concebido ao acaso. O documentário foi realizado com apenas Eryk e sua câmera durante uma viagem de 14.000 km pela América Latina. O cineasta fazia ali, pela primeira fez, um filme sem uma equipe de cinema. A sua equipe, se é que pode-se dizer assim, era um grupo de historiadores e cientistas políticos a quem ele acompanhou durante a viagem.

Eryk Rocha, realizador de ROCHA QUE VOA e TRANSEUNTE

Pachamama foi rodado no Brasil, Peru e Bolívia. Mais do que nunca ficou evidente o talento do cineasta em montar um filme, pois o roteiro simplesmente inexistia, e, mais ainda do que Rocha que voa, foi um filme descoberto e criado na sala de edição.

A esse ponto do debate, Eryk fala da importância das novas tecnologias digitais como dispositivos técnicos para a linguagem cinematográfica. “A tecnologia em si é obsoleta, ela tem de ser incorporada na sensibilidade do artista para que seja devidamente aproveitada”, afirma. Aqui ele sustenta a ideia de câmera corpo, “a câmera é como uma máscara, uma extensão do órgão humano”, ora, não seria possível ter gravado Pachamama sem o uso da tecnologia digital ou da câmera agregada ao corpo, o que se vê cena após cena no documentário não é nada mais do que o conjunto de sentimentos e ideias de Eryk no momento em que as filmou.

EnDocXXI

Antes do fim do debate, Eryk ressaltou – a partir da provocação de Geraldo Sarno – a importância de Transeunte como um marco na sua carreira. Aquelas vozes anônimas ouvidas em consonância documental nos seus três primeiros filmes agora subvertem-se em uma só voz ficcional, a voz do transeunte. A passagem do plural para o individual, do documental para a ficção não representa uma perca do sentido político de Eryk, como ele mesmo disse, citando um dos cineastas entrevistados em Rocha que voa, “um filme pode até não mudar o mundo, mas temos que continuar a fazê-los com a intensão de mudá-lo”.

Após à palestra de Rocha subiram ao palco do Teatro São João os documentaristas Humberto Ríos (Argentina), Saudhi Batalla (México) e Tito Amejeira (Argentina) para a mesa de debate intitulada EnDocXXI. Na mesa foi debatida a importância do documentário como instrumento político e militante em confronto à massificação da manipulação midiática, além de estabelecerem a história do documentário na América Latina, narrada apaixonantemente pela voz calma de Humberto Ríos.

Em seguida, subiram ao palco do teatro os realizadores Iván Sanginés (Bolívia), Marta Rodríguez (Colômbia), David Hernández Palmar (Venezuela), Kuyllur Saywa (Equador) e Mónica Charole (Argentina) para a mesa de debate sobre o tema Cinema dos povos originários, onde foi posta em pauta a produção cinematográfica indígena pela ótica dos próprios realizadores indígenas. O tema deu pano para manga no debate entre os realizadores, de violência e desapropriação dos povos indígenas até a técnica utilizada pelos índios cineastas, foram desmistificados vários preconceitos que se tinha em relação a esse tipo de cinema. Entre os vários mitos quebrados, os realizadores deixaram claro que o cinema indígena não é só documental, e sim, há cinema de ficção realizado por índios. O cinema indígeno, segundo Iván Sanginés, é político, e não estético; plural, e não individual.

O debate sobre o cinema dos povos originários deixou claro que a contribuição artística do povo indígena vai para além das músicas e danças. Os realizadores ainda divulgaram o  XI Festival Cine y Video Indigena 2012 que acontecerá em Bogotá de 23 a 30 de setembro e em Medellín de 03 a 06 de outubro.

Pela tarde houve mais mesas de debate temática na Escola de Música de Sobral, além de oficinas de criação de roteiro e direção de arte. Também houveram exibições de curtas nas mostras Grande Caribe, Santiago Álvarez e Curta o Ceará.

Ainda hoje, acontecerá a exibição do longa Hamaca Paraguaya de Paz Encima (Paraguai) e a homenagem à documentarista Marta Rodríguez à viúva de Santiago Álvarez: Lázara Herrera.

Minhas impressões a respeito do filme e da homenagem serão publicadas logo mais.

Conheça o trailer de Hamaca Paraguaya.

Clique aqui para assistir o vídeo inserido.

 

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